Tessituras da Moda: diálogos entre o vestir, modos e comportamentos

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Você, leitor, está na moda? Você, leitor, é démodé? Gosta de seguir modinhas de internet? Prefere o pretinho básico ou considera que laranja é o novo preto? Usa pochete com ombreira e boca de sino? Essas são boas perguntas, mas a pergunta que realmente importa é outra: estudar moda está na moda? Se a resposta for sim, é importante ponderar que nem sempre foi assim. O crítico francês Roland Barthes escreveu uma série de artigos sobre esse tema, reunidos em dois volumes de sua obra completa. Segundo Barthes, “Até o início do século XIX, não houve História da indumentária, propriamente dita, mas apenas estudos de arqueologia antiga ou recensões de trajes por qualidade. A História da indumentária tem origem essencialmente romântica; era feita quer para fornecer a artistas, pintores de época ou teatrólogos os elementos figurativos da ‘cor local’ necessários a suas obras, quer porque historiadores se esforçassem por estabelecer alguma equivalência entre a forma de indumentária e o “espírito geral” de um tempo ou de um lugar (2005, p. 257 – 258).”
Fica evidenciado que o estudo de moda consistia basicamente em uma catalogação da cultura material de outros períodos, sem grande preocupação em compreender o sentido do como e do porquê se vestia de uma maneira ou de outra. A moda era desconectada de seu fator humano e sociológico, despida de seu sentido histórico e afastada de qualquer valor filosófico, político ou moral. Portanto, “moda”, entre fortes aspas, era apenas pano velho para inspirar quem produzia panos novos.
Mas, como Miranda provou em O Diabo Veste Prada, pano jamais é apenas pano e uma escolha de cor nunca é aleatória. Assim, nas últimas décadas, com a abertura e complexificação temática dos estudos em humanidades, as pesquisas acadêmicas sobre moda se fortaleceram, gerando contribuições fundamentais para os estudos de história, sociologia, estética e áreas afins. Esse provou ser um desdobramento natural, uma vez que “a moda consiste em imitar o que de início se mostrou inimitável. Esse mecanismo, paradoxal à vista, é de grande interesse para a sociologia, uma vez que esta se volta principalmente para as sociedades modernas, tecnológicas, industriais, e a moda é um fenômeno historicamente peculiar a essas sociedades” (BARTHES, 2005, p. 353). Impossível compreender uma sociedade sem analisar o que ela veste, sobretudo em uma sociedade tão complexa e multifacetada como a contemporânea, onde o antigo e o novo, o vanguardista e o retrô, o conceitual e o usual, convivem. Essa convivência pode se dar na passarela ou nas ruas, pode ser conflituosa ou pacífica, mas nada muda o fato de que a moda nos cerca e, muitas vezes, nos define.
O livro Tessituras da moda: diálogos entre o vestir, modos e comportamentos, organizado pelo trio de pesquisadores Nélia Cristina Pinheiro Finotti, Andréa Kochhann e João Guilherme da Trindade Curado, se insere neste debate. É uma obra coesa e bem costurada, apresentando doze capítulos que abordam a moda a partir dos mais diversos ângulos. Vai das origens do ato de se vestir até debates sobre a relação entre vestimentas e arquitetura, passando pelo sentido geral das estampas e do tema da sustentabilidade. Essa diversidade temática reforça a perspectiva de Barthes de que “A moda escrita é um sistema semiológico de segundo grau, passa a ser legítimo, como até necessário, separar o significado do significante e devolver ao significado o peso mesmo de um objeto” (2005, p. 299). Essa obra tem tudo para fazê-lo rever muitos de seus conceitos e pré-conceitos. Como o próprio título indica, não se trata de uma obra que se propõe superficial, a ideia é aprofundar-se em temáticas complexas que apenas abordagens interdisciplinares podem dar conta. São diálogos de conceitos, enfeitados com tessituras de categorias. Quem sabe o livro se torna um pequeno clássico! Um pretinho básico que todos precisarão ter no guarda-roupas e na biblioteca.

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