Novembro Negro

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A poesia não nasce, não surge; a poesia é um texto lapidado com uma porcentagem do “fingimento poético” (O poeta é um fingidor/ Finge tão completamente/ Que chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente. – Fernando Pessoa), alguns quilates do sofrimento real e muita reflexão sobre a melhor qualidade da palavra. Todo mundo pode escrever versos; alguns encontram a poesia no verso.
Estar a serviço da escrita é decidir não passar pela vida em brancas nuvens. Quando um escritor faz esse pacto com o texto, decide entregar a sua alma para que seja dissecada pela multidão. Assim, escrever é ter coragem. Mais ainda, é exercitar a coragem que muitas vezes o poeta não tem… mas há um ditado popular que diz: se não tem coragem, vá com medo mesmo.
Eu não sei se a Laodicéia tem medo. Mas sei que tem muita coragem. Não apenas de ser poeta, mas de ser mulher, de ser gente de bem e de enfrentar os problemas de frente para resolvê-los. Assim, com esta coragem ela se torna uma escritora. Não sei se o eu-lírico que assume o sentimento poético dos versos desta obra tem relação cotidiana com a autora, mas sei que ele incorpora a poesia que percorre os versos dando-lhes o tom literário.
No percurso da leitura, percebemos que há muito mais do que o registro de sentimentos controversos. Há a representação de cada um que habita o mundo, mas se sente incomodado e não se acomoda. Como a poesia de Álvares de Azevedo, temos aqui versos soturnos que refletem desânimo e confusão: Nesse espelho enxergo meu futuro/ Com reflexos sombrios e obscuros (p.27). Mas ao mesmo tempo indicam também o niilismo que desacredita de qualquer sentido ou utilidade na existência.
Mesmo subjetiva, sentimental e emotiva, a poesia de Laodicéia, em alguns pontos, reflete o racionalismo que se debruça sobre a escrita e pensa como moldá-la aos objetivos a que se propõe: Entrelinhas, por exemplo, faz uma reflexão aos que pretendem ser poetas, com uma indicação do que é a poesia: Se a poesia viesse subitamente/ Não se eternizaria sublimemente (p.35). Mas o eu-lírico não tem a pretensão de ensinar, apenas de marcar a forma de a autora significar para si o texto poético.
Às vezes escandalizando as mentes mais conservadoras com estas chamadas ao oculto ou ao obscuro, os poemas vão se construindo na obra sem amenizar a palavra; também não há a preocupação da autora em abrandar os sentidos para tornar o texto menos indigesto. Com esta forma visceral de expor os sentimentos do eu-lírico, assim se faz a poesia que a autora entrega ao leitor sem medo e sem constrangimento.

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